É no balanço da carroça que as melancias se ajeitam

Adriana Ferrareto – Edição #001

 

Continuo aprendendo sobre como um líder pode desenvolver outros líderes

 A entrevista

Ao final de uma convenção nacional de vendas da indústria farmacêutica à qual eu pertencia, fui escolhida para participar de um processo seletivo para um próximo nível: gerente comercial.

Quando cheguei na fase final do processo de muitas entrevistas, com várias pessoas, tremi na base, era a hora de conversar com o executivo que tinha o poder de decisão.

Eu não fazia a menor ideia, com meus vinte e poucos anos do que de fato envolvia todo o escopo de uma liderança.

Após nossa conversa, ele me informou: "Vou te promover a um cargo de liderança. Você será uma gerente de vendas agora. No entanto, tenho uma preocupação: você é muito alegre e amigável, e temo que isso possa dificultar sua habilidade de obter o respeito de uma equipe".

Fiquei confusa com a promoção seguida de uma crítica /observação com meu “jeito de ser”, agradeci e antes que eu fosse embora, ele disse: “Ah, antes que eu me esqueça, a vaga de gerente comercial é para o centro oeste do pais, você vai morar em Goiânia e precisa se mudar em um mês”.

Minha cabeça girou, quase como uma leve tontura, fiquei de fato atordoada com tanta informação.

O que ele e eu desconhecíamos era que a minha personalidade, frequentemente criticada por ele, se tornaria a minha salvação.

Os preparativos para a mudança

Passado o susto, conversei com meu futuro ex-marido na época, avisei minha família e comecei a organizar minha mudança com a Granero.

Posso assegurar que nunca esquecemos a nossa primeira mudança de cidade.

Mas daqui a pouco termino de contar da mudança.

A empresa me ofereceu o que eu chamo de kit gerente, que na época era:

  • Um laptop,

  • Um Bip pager é um dispositivo que foi muito popular durante as décadas de 1980 e 1990. Era um aparelho pequeno que as pessoas costumavam prender em seu cinto. Ele recebia mensagens de texto, e em uma época em que os celulares ainda eram uma novidade, possuir um Bip era considerado essencial.

  • Alguns manuais com orientações básicas para eu ler.

Deixei meu futuro ex-marido cuidando dos detalhes da nossa mudança e fui com meu kit gerente e uma mala pequena para Goiânia.

A realidade nua e crua

Ao me aproximar de Goiânia de avião, fiquei impressionada com a vastidão de terra e incontáveis fazendas que se estendiam até onde a vista alcançava.

A cena me provocou uma incógnita significativa:

  • Como me sairei na posição de gerente?

  • Serei capaz de gerenciar uma equipe distribuída por todo o centro-oeste do país?

  • Como se realiza tal façanha?

Sim, você imaginou certo, eu não fui preparada para a função, como a maioria dos gerentes que conheço em todos os tipos e tamanhos de empresa, nacionais ou internacionais, em maior ou menor escala, isso ainda é muito comum, infelizmente.

Foi dada a largada

Fiquei um mês hospedada em um hotel, longe de todos meus familiares e reconhecendo o território, meu novo chefe, meus pares, contratando gente para fazer parte da minha equipe.

Em circunstâncias como essa, tem-se mais "sorte’ do que juízo, pois eu não fazia ideia de como entrevistar alguém adequadamente.

Os problemas começaram a aparecer de todos os lados, em grande escala. Caos total.

Então resolvi ligar para um alto executivo da empresa que quando soube da minha promoção me parabenizou e me deu seu telefone pessoal dizendo: “se precisar de algo, me contate”.

Foi o que fiz, liguei e contei como as coisas estavam indo e as dificuldades encontradas, quase não me lembro do que ele me disse, mas uma frase ficou marcada:

“É no balanço da carroça que as melancias se ajeitam”.

Compreendi a mensagem: era necessário permitir que o tempo fizesse seu trabalho e aguardar que as situações (representadas aqui por melancias) se estabilizassem, ou se desmoronassem, caso caíssem do caminhão.

Neste caso, eu poderia ser a melancia!

Resolvi seguir o conselho e voltei para São Paulo para o fechamento da mudança.

Como é difícil começar um novo capítulo

Vi todas as minhas coisas encaixotadas com muito plástico bolha, caixas numeradas e escritas com quais itens tinham em seu interior, até meu Corsa da época foi no caminhão, junto com a mudança.

Meus pais estavam conosco na frente do nosso prédio, pois meu apartamento seria vendido.

Quando as portas do caminhão se fecharam e o caminhão da Granero foi embora, desabei de tanto chorar. Era caminho sem volta, isso com a mentalidade que eu tinha na época.

Abracei meus pais e senti que ali, uma nova fase da vida começaria de fato.

Eu sabia com certeza: queria fazer uma diferença positiva na vida das pessoas.

Quanto as melancias, de fato foram se ajeitando com o andar da carroça. Admito que exista até uma sabedoria popular contida nessa analogia.

Hoje eu sei que é muito mais produtivo e didático, quando se prepara uma pessoa para a liderança, antes mesmo de ser líder.

Mas não me martirizo quando olho em retrospectiva. Meu olhar é de aprendizado.

“Termine cada dia e não olhe para trás. Você fez o possível. Algumas gafes e besteiras sem dúvida voltarão à memória; esqueça-as assim que der. Amanhã é um novo dia; comece-o bem, com serenidade e um estado de espírito elevado demais para se deixar ser oprimido pelas tolices do passado”

Ralph Waldo Emerson

Nesse ponto da história quero te fazer algumas perguntas

  • Quando você fala que quer crescer na carreira é por que deseja ganhar mais e acredita que isso só será possível sendo líder?

  • Você já se questionou sobre o que está envolvido na função gerencial, incluindo todas as atribuições e responsabilidades que diferem daquelas às quais você está acostumado(a)? Já refletiu sobre a gestão do tempo nesse papel?

  • Se a resposta é sim, você sabe disso tudo – te pergunto — você deseja ser um líder?

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